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Não é porque você não sabe o que há no fim do caminho que seja algo inteligente ficar tentando se enganar com falsas crenças só para não precisar pensar nisso. No fim, não fará diferença, porque quando chegar a hora, você saberá. Ou melhor, não saberá, mas não fará diferença alguma! |
Tente imaginar a sua própria morte.
Tentou?
Agora tente imaginar o que vem depois.
Tentou?
Certamente você imagonou algum tipo de continuidade. Mesmo que você tenha imaginado o nada, imaginou esse nada sob seu ponto de vista, como se você estivesse lá para vê-lo e senti-lo.
O cérebro humno só consegue imaginar algo se não tiver com o que comparar esse algo. Não podemos comparar a morte com nada, porque ela não se parece com absolutamente nada que tenhamos já experimentado. Morrer é não-ser, não-existir, não-estar. Não sabemos o que são essas coisas porque tudo que conhecemos é ser, existir e estar. Nosso cérebro não consegue assimilar um estado de coisas cujo fator comparativo inexiste.
O medo dessa impossibilidade comparativa, associado à nossa capacidade de inventar explicações para as coisas que não possuem explicação deu origem às religiões e ao princípio de vida eterna. Se tudo que conhecemos é a vida, nada mais coerente do que ela sempre continuar, independentemente do que diabos aconteça com nosso corpo.
Imaginamos, portanto, a morte como um sempre existir, ainda que de outro modo. Nos imaginamos vendo, ouvindo e experimentando a realidade, mesmo que essa realidade seja diferente na morte, só porque é impossível imaginar como seria não estar lá para ver, ouvir e experimentar.
Nossa finitude nos põe aquém do que seria necessário para compreender conceitos cujo cerne reside em conhecimentos que somos incapazes de obter. Não conseguimos imaginar a eternidade, mesmo que pensemos no maior periodo de tempo possível; não conseguimos conceber o infinito por maior que seja a vastidão do espaço que construamos em nosso pensamnto. Amor, liberdade, respeito, dúvida... todas essas coisas estão além de nós. Sentimos mas não conseguimos entender integralmente.
A morte é uma transição de estados. É a inversão de todas as verdades e todas as certezas, é o acréscimo de um "não" diante de tudo que aprendemos a conhecer por "real". E pensar nisso assusta. A idéia dessa transição é tão aterradora para nós por não sermos capazes de antecipar suas consequências que somos forçados a enganar a nós mesmos com ideais de uma suposta continuidade, para não termos de nos ocupar com o que excede nossas faculdades mentais.
Sempre que usamos a religião para explicar o que não entendemos, estamos apenas fugindo de nossa própria ignorância. Estamos apenas usando um sistema pré-pronto de conhecimento para afastar de nós o peso de ter de conviver com algo que não somos capazes de compreender.
Morrer é tornar-se nada. È deixar de ser, deixar de existir, deixar de sentir. É muito mais transcendental imaginar a morte dessa forma, essa mudança de estado tão drástica que vai além do nosso pensamento, é tão mais elevado imaginar o que nos aguarda de um ponto de vista mais coerente, que chega a parecer tolo nos agarrarmos a ilusões autopiedosas de eternidade quando sequer somos capazes de vislumbrar o dia de amanhã.
A religião advém do medo de morrer. Vem do medo de não entender a morte. A morte, porém, é algo natural. Tudo na natureza morre um dia, do menor dos insetos até a mais brilhante das estrelas, tudo vem a desaparecer. E se algo é natural, por que diabos inventar um monte de histórias para explicar isso, se a própria natureza já nos dá suficientes respostas?
Morrer é algo que vai acontecer com todos nós. Vai acontecer comigo e com você. Não haverá céu ou inferno, nem iremos reencontrar nosso cachorro que morreu ou nosso avô que se foi. A morte será apenas retornar ao nada de onde tudo um dia surgiu. E Deus não terá nada a ver com isso quando acontecer.
Portanto, sua crença para proteger sua mente do temor da morte só lhe servirá em vida. Quando tudo acabar, caro leitor, sua crença irá juntamente com todo o resto. E mesmo que você viva sua vida inteira acreditando em deuses e mitos, isso de nada vai ajudá-lo quando você tornar-se uno com o Zero Eterno. Portanto, apenas certifique-se de que durante sua estada nesse mundo, realize feitos suficientemente memoráveis para que eles possam sobreviver a você e eternizá-lo. É a única vida eterna que alguém pode ter. E tenho dito!